Não tem uma ela que fica á espera da sua chegada para lhe dizer que não falta mais nada porque ele chegou.
E o seu rosto não vai ficar agitado, nem vai brilhar de entusiasmo porque ela não vai estar lá.
Nunca encontrou a menina dos seus olhos e por isso dorme. Dorme num sono profundo como quem já não procura mais nada.
Porventura neste dia, desistiu. Está com sono. Está cansado.
Se Ela passar por ele, ele não a verá porque está dormindo. E como a sorte só protege os audazes, adormeceu, mesmo por debaixo do cartaz que diz: "um chato"...
Esta é a verdadeira história ... APELO DE URGÊNCIA
De Rutland Sq., Massachussets, mandaste as boas-festas. Depois vi-te em Bruxelas, na Grand´ Place, mas nada foi possível, porque conduzias uma excursão turística e o autocarro ia partir, na hora.
Em Ruão, encontrámo-nos, na Rue de L´Horlogue. E em Paris, na esplanada de um café, em Saint Andrés-des-Arts. Mas nada dissemos um ao outro porque tivemos medo de que nenhum de nós fosse um ou o outro.
Em Ottignies, nevava, vi passar o teu rosto colado ao vidro da carruagem de segunda classe da composição da linha do outro lado.
Eu ia para Gent. E tu? Direction Liège?
De então para cá, tenho-te visto, juro, atravessando uma rua qualquer de uma qualquer cidade de qualquer documentário cinematográfico ou, súbito, ao passar, numa qualquer fotografia de jornal.
Entretanto, este breve postal de Tientsin: “From China with love”.
E não assinas Laura, não te chamas Beatriz, nem Annabelle Lee.
Sei, porém, o teu nome e o teu corpo, mas não sei onde moras (quem o sabe?).
E por isso te peço que, se um dia (extremamente improvável) este apelo de urgência chegar às tuas mãos, cair sob os teus olhos, tombar no teu coração, então escrevas, escrevas, logo, prontamente, dizendo o teu país, a tua cidade, a tua morada.
Porque eu voltarei a cobrir a cabeça de cinzas, calçarei as sandálias, tomarei de novo o meu bordão de buxo, abraçarei os parentes e os amigos e partirei à procura do infinitamente inefável.
in A VIAGEM POSSÍVEL (POESIA - 1965/1981), EMANUEL FÉLIX, EDIÇÃO DA SECRETARIA REGIONAL DE EDUCAÇÃO E CULTURA, ANGRA DE HEROÍSMO, 1984
9 Comments:
elas são mais que muitas... e ele fica assim!
A.
cá pra mim levou com um colar e ficou assim
Pelos vistos não são elas que são chatas.... Eles conseguem sempre nos surpreender...!
Isto é que é cansaço. O que terá ele andado a fazer... com elas??
Coisas boas?! Ora ai está alguém que aproveita as oportunidades...
Xihhh, nesses comboios existem tantos "chatos"! Mas este raccord não é chato bob.
[[]]
E por falar em chatos...
"tadixo" do Chato!...
Não teve um dia bom!
Não tem uma ela que fica á espera da sua chegada para lhe dizer que não falta mais nada porque ele chegou.
E o seu rosto não vai ficar agitado, nem vai brilhar de entusiasmo porque ela não vai estar lá.
Nunca encontrou a menina dos seus olhos e por isso dorme. Dorme num sono profundo como quem já não procura mais nada.
Porventura neste dia, desistiu.
Está com sono.
Está cansado.
Se Ela passar por ele, ele não a verá porque está dormindo.
E como a sorte só protege os audazes, adormeceu, mesmo por debaixo do cartaz que diz:
"um chato"...
Será que ela o vai encontrar?
Esta é a verdadeira história ...
APELO DE URGÊNCIA
De Rutland Sq., Massachussets, mandaste as boas-festas.
Depois vi-te em Bruxelas, na Grand´ Place, mas nada foi possível,
porque conduzias uma excursão turística
e o autocarro
ia partir, na hora.
Em Ruão, encontrámo-nos, na Rue de L´Horlogue.
E em Paris, na esplanada de um café, em Saint Andrés-des-Arts.
Mas nada dissemos um ao outro
porque tivemos medo de que nenhum de nós fosse um ou o outro.
Em Ottignies, nevava,
vi passar o teu rosto colado ao vidro da carruagem de segunda classe
da composição da linha do outro lado.
Eu ia para Gent.
E tu?
Direction Liège?
De então para cá, tenho-te visto, juro,
atravessando uma rua qualquer de uma qualquer cidade
de qualquer documentário cinematográfico
ou, súbito, ao passar,
numa qualquer fotografia de jornal.
Entretanto,
este breve postal de Tientsin:
“From China with love”.
E não assinas Laura,
não te chamas Beatriz,
nem Annabelle Lee.
Sei, porém, o teu nome e o teu corpo,
mas não sei onde moras
(quem o sabe?).
E por isso te peço que, se um dia
(extremamente improvável)
este apelo de urgência
chegar às tuas mãos,
cair sob os teus olhos,
tombar no teu coração,
então escrevas, escrevas, logo, prontamente,
dizendo o teu país,
a tua cidade,
a tua morada.
Porque eu voltarei a cobrir a cabeça de cinzas,
calçarei as sandálias,
tomarei de novo o meu bordão de buxo,
abraçarei os parentes e os amigos
e partirei à procura
do infinitamente inefável.
in A VIAGEM POSSÍVEL (POESIA - 1965/1981), EMANUEL FÉLIX, EDIÇÃO DA SECRETARIA REGIONAL DE EDUCAÇÃO E CULTURA, ANGRA DE HEROÍSMO, 1984
O cansaço do ser rotineiro afogado na dor de ser gozado. Até eu ri à gargalhada do chato que ele é... tadinho. A vida é sempre "àrrebentar".
Saudações Acepticas
Eu gostei!...
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